Timbu rescindiu contrato com o lateral-esquerdo no meio da Série A e o atleta não poupa o ex-técnico: 'Ele é um cara que os jogadores suportam'
O lateral-esquerdo Lúcio
chegou ao Náutico para disputar o Brasileirão 2012 com a missão de ser
uma das referências do time. Ao lado do atacante Araújo e do
lateral-direito Alessandro, ele seria responsável por dar “peso” ao
elenco alvirrubro que voltava à Série A depois dois anos fora da elite
nacional. A passagem do jogador pelo clube, no entanto, foi abreviada na
30ª rodada da competição após desentendimentos de Lúcio com o técnico
Alexandre Gallo.
Sem clube desde que saiu do Náutico, Lúcio aproveita os momentos de
folga na praia do Janga, na cidade de Paulista, na Região Metropolitana
do Recife. É no município, onde o jogador nasceu e passou boa parte da
infância, que ele mata as saudades da bola em partidas de futevôlei com
os amigos. Ex-jogador do Grêmio, do Palmeiras e do Hertha Berlim
(Alemanha), o lateral revela ao PFC1.COM.BR a origem dos problemas
com Gallo e conta detalhes dos bastidores do Náutico no Brasileirão.
Lúcio: até agora estou tentando encontrar uma resposta clara. Fiquei assustado da forma como as coisas foram conduzidas. Estava bem pela esquerda, que era um dos pontos fortes do time comigo e o atacante Araújo e, de repente, de uma hora para outra, o técnico Alexandre Gallo mudou comigo. Daqui a dez ano quero olhar para o olho dele e dizer: "eu fui homem contigo, nunca pisei na bola e até agora não me foi dada uma resposta". Sei pelo menos que uma das grandes falhas que tenho é que sou um jogador muito ligado ao elenco e isso incomoda muita gente.
A sua saída aconteceu no jogo contra o Palmeiras, nos Aflitos, pela 30ª rodada. O que aconteceu no vestiário antes da partida?
Lúcio: ao contrário do que foi noticiado nas rádios, eu tinha uma convivência muito boa com Douglas Santos e João Paulo. Então nunca iria reclamar deles estarem sendo escalados no meu lugar. Também não chutei a porta da sala de Gallo como foi publicado. Fui conversar para saber o porquê de ele estar me minando, o verdadeiro motivo. Alexandre Gallo já havia me dito que eu não tinha velocidade (rindo ironicamente). Como pode? Era só ver um jogo ou qualquer treinamento do Náutico para observar que essa desculpa não era coerente. Ele estava me cozinhando. Queria poder falar o verdadeiro motivo da minha saída, mas não obtive resposta.
Você não tem nenhuma suspeita do motivo do seu desligamento do clube?
Lúcio: sei que a gota d'água foi porque comprei a briga de três moleques que iriam ser dispensados do clube. Cleverson (que acabou saindo), Breitner e Rico. Como disse, sou um cara de grupo e eu fui cobrar o motivo desse caras saírem do meio para o final da temporada, sem razão aparente. Pô, o técnico queria mandar embora a troco de nada três meninos que estão procurando espaço na profissão. Poderia segurar até o final do campeonato. Comprei essa briga e isso para ele foi o fim.
Conte mais detalhes dessa polêmica.
Lúcio: nesse caso, pessoa vai embora porque teve uma proposta melhor ou o próprio jogador prefere sair, tudo bem, mas ser pego de surpresa assim, no meio do Brasileiro, ia queimar o currículo deles. Isso aconteceu naquela vitória da gente sobre o Atlético-MG, nos Aflitos, cinco rodadas antes do jogo do Palmeiras. Na reapresentação, na academia, o elenco se reuniu. Mostramos a nossa cumplicidade e ficou decidido que ninguém ia embora assim. Gallo sofreu um impacto. Experiente, nem coloquei a roupa de treino, demonstrando que estava pronto para ser afastado se a decisão dos jogadores não prevalecesse. Fui o único sem uniforme. Olhei e falei: "você é empresário ou treinador? Porque não tem nada que ficar negociando jogador. Se mandar os três embora, eu sou o quarto a sair da academia". Nesse momento, Patric, Araújo e Gideão ficaram do meu lado e soltaram: "se Lúcio sair, então também estamos fora". Daí, o grupo todo ficou contra Gallo e isso foi muito forte para ele. Deve ter pensado: "pô, o cara tem mais moral no Náutico como jogador do que eu que sou o técnico do time". Depois da minha afirmação, todos levantaram a mão ao meu favor e toda a ação por parte dos atletas se concentrou em mim. Esses são os bastidores de uma equipe de futebol que ninguém imagina.
Sem clube, Lúcio aproveita para jogar futevôlei:' Émeu vício' (Foto: Lula Moraes/Pfc1.com.br)
Lúcio: a reunião aconteceu na apresentação depois do jogo com o Atlético-MG (25ª rodada), mas soubemos antes, na preparação desta partida. Teve até um momento que durante a reza para entrarmos em campo contra os atleticanos, nos Aflitos, Elicarlos falou na oração: "se qualquer jogador for sair do clube, eu me incluo nesta dispensa". Elicarlos é um cara calmo, na dele, porém estava consciente que Gallo não precisava agir dessa forma. Eli foi um dos que compraram a briga, mas pesou mais foi o fato de eu ter questionado dias depois na academia e nem ter colocado o uniforme. Mostrou que eu estava falando sério e ele não me perdoou por isso. Depois, aí foi que perdi qualquer chance de jogar.
Mas o treinador não tem o direito de escolher com quem ele trabalha?
Lúcio: ele tem todo o direito de fazer isso, é o chefe, mas se o grupo compra uma situação dessas contra o treinador, é porque tinha algo acontecendo de errado. Gallo estava perdido e fazia coisas injustificáveis. Breitner é um exemplo disso. Tinha vezes em que era jogo para o menino, na posição dele, não tinha substituto, aí o técnico improvisava. Rico fez gol na estreia dele pelo Náutico, na derrota para o Coritiba. Qual era a lógica? Ter dado uma sequência para Rico e acabou não acontecendo. Essas coisas não têm resposta. O grupo estava muito fechado e quando a situação se torna covarde, injusta, não tem como deixar passar. Os caras estavam fazendo tudo correto. No meu caso, eu estava bem, sendo a esquerda o ponto forte da equipe comigo e Araújo. Não foi à toa que a única vitória alvirrubra fora de casa saiu dos nossos pés (o Timbu venceu o Atlético-GO por 1 a 0, na oitava rodada. Lúcio deu o passe e Araújo marcou). Se o grupo compra uma briga, é o direito de um contra 30.
Lúcio: 'Não tenho nada contra o Náutico. É o timeda minha mãe' (Foto: Aldo Carneiro/PE Press)
Lúcio: isso mesmo, ele não tem a confiança do grupo. Alexandre Gallo é um cara que os jogadores suportam. As vitórias que o Náutico está tendo são pela qualidade dos jogadores e não pela competência do treinador. A preparação física de Elliot Paes e Ricardo Seguins é espetacular e é outra coisa que está fazendo a diferença. Gallo e o auxiliar Maurício Copertino? Nem comento. Estão tendo sorte que Kieza está fazendo gol atrás de gol.
Como era sua relação com o treinador no clube? Depois dessa reunião na academia, o clima deve ter ficado tenso.
Lúcio: Gallo começou a me escantear e eu devolvia na mesma moeda. Dou bom dia para amigos, com ele eu nem olhava na cara. Só quem está dentro dos Aflitos, do vestiário sabe o que acontece. Dinheiro do meu bolso só sai para a minha família.
Como assim? Tinha que pagar para jogar?
Lúcio: para o bom entendedor, poucas palavras bastam.
Não ficou claro. Tinha que pagar?
Lúcio: não sei, não sei (sorriso irônico).
Em meio a tudo isso como era a sua relação com Douglas Santos?
Lúcio: a nossa relação é muito boa. Douglas Santos estava preocupado com a situação e eu dizia para ele que era pessoal, comigo. Orientava Douglinhas, dando dicas para jogar melhor, tocar a bola, melhorar o futebol dele. Quero que daqui a dez anos ele olhe para mim, na seleção brasileira, e diga que eu estava certo sobre as qualidades dele.
Na sua opinião, houve traição da parte de Gallo? Ocorreu a famosa “trairagem” na linguagem do boleiro?
Lúcio: no meio do futebol se classifica assim, mas acho que vai além, não tenho nem palavras para definir. No jargão, ele foi traíra. Disputei três Libertadores e na época que eu defendia o Grêmio falava para Mano Menezes: "deixa comigo, bota o time para frente que eu seguro na defesa". O atual técnico da seleção brasileira. E agora Gallo vem me dizer que eu não defendo bem? É a mesma coisa de eu chegar para um repórter experiente, com dez anos de rua e falar que ele não sabe digitar. Eu não vim para o Náutico jogar de meia e nem lateral, sou ala. Aí vem Gallo me explicar de esquema tático, tudo bem, me sacrifico pelo time e depois ele passa a só me usar nos 15, 10 minutos finais. Me colocava em furada, como no jogo do Figueirense nos Aflitos, quando estava 2 a 0 para eles, mas aí a gente virou para 3 a 2. O cara vai tirando a sua confiança, as suas qualidades e se a pessoa embarcar nessa, ela cai. Tem que ter a consciência de parar e pensar: "opa, essa é a opinião dele, porém não sou assim". Era mais fácil chegar para conversar e falar que não queria contar comigo no time. Mário Sérgio fez isso comigo quando estávamos no São Caetano e o respeito até hoje. Foi sincero, me elogiou, só que afirmou que no esquema dele não tinha espaço para mim. Falou na minha cara e Gallo não fez isso.
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Vamos voltar ao jogo do Palmeiras. A falta de uma conversa
franca resultou no estopim da sua discussão com o treinador. Você
conseguiu dizer o que queria a Alexandre Gallo?Lúcio: eu estava muito calmo, falei e Gallo só escutou, não rebateu. Quem cala, consente. Eu estava tão certo do que iria fazer que o técnico achou que eu fosse gritar ou espernear e não foi nada disso. Disse que ele estava tratando com um homem, que o que acontecia era covardia e não ficaria mais no time. Continuei e disse: "lembre-se de que o mundo dá voltas e estou falando com a porta aberta, porque se nos trancarmos na sala a história passará a ser sua, a sua versão. Então falo para todo grupo escutar, estou na sua frente, olhando no seu olho e não pelas suas costas. Estou fora". Ele ficou mudo. Quando saí, ele se levantou e fechou a porta. Um roupeiro chegou a mim e disse que está há anos no clube e nunca havia visto uma atitude de homem como essa. Isso eu vou levar para os meus netos.
Não sairia do Náutico à toa. É o time que minha mãe torce e o clube
onde meu irmão Clécio (jogador alvirrubro dos anos 90) fez a história
dele. Não iria manchar essa relação de graça. Tive que fazer"
Lúcio
Lúcio: muitos colegas estão engasgados, mas não têm coragem por estarem começando no futebol. Entendo. Vários me disseram: "Lúcio, queria ter o seu nível agora para fazer o mesmo". Continuo mantendo o contato com a maioria. Teve jogador que já foi comer churrasco na minha casa. Outros ligam para mim quase diariamente. Se tivesse sido reprovado pelo elenco, ninguém apareceria. Não havia competição entre a gente.
Se arrepende de algo na passagem pelo Náutico?
Lúcio: não sairia do Náutico à toa. É o time que minha mãe torce e o clube onde meu irmão Clécio (jogador alvirrubro dos anos 90) fez a história dele. Não iria manchar essa relação de graça. Tive que fazer. Não tenho nada contra o Náutico ou a diretoria, meu problema foi com treinador. É só pegar meu histórico de "rebeldia", como falaram na imprensa, e comparar com o de Alexandre Gallo. Aconteceu o mesmo quando ele comandava o Avaí e o Internacional. Gallo não tem clima nesses clubes. Por que será?
Como está a vida pós-Náutico? Parece que está boa, relaxada, com muita praia.
Lúcio: a pessoa precisa desse momento de descanso. Não sou muito de pelada de férias, meu vício, minha doença é o futevôlei. Jogo direto, seja na praia do Janga (Paulista) ou em Boa Viagem (Recife). Estou com mais tempo para a minha família, relaxando, mas mantendo o físico. Apesar do futevôlei ser uma brincadeira, funciona como uma fisioterapia, um fortalecimento muscular e isso é bom. Faltava apenas soltar o que estava me engasgando.
E como será o futuro para o lateral-esquerdo Lúcio?
Lúcio: não sou muito de fazer planos. Estou relaxado, com minha família, curtindo esse momento. Estou me cuidando e fechando a rescisão com o Náutico e no próximo ano deve ter coisa boa para mim. Sei que estou com 33 anos, mas só paro no dia em que não conseguir mais tocar uma bola, dar uma arrancada. Aí eu paro.
* sob edição de Franco Benites
Lúcio
usa futevôlei para manter a forma física e espera concluir rescisão com
o time do Náutico (Foto: Lula Moraes/Pfc1.com.br/PE)

Para Réver, melhor jogo em casa foi a vitória sobre o Timão (Foto: Léo Simonini / Globoesporte.com)
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